quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A floresta



Era uma vez uma menina chamada Isabel. Ela tinha onze anos e vivia numa casa muito grande. Todos os dias, depois das aulas ela ia à floresta, que ficava perto da sua casa.

Certo dia, quando ela foi à floresta, viu a sua árvore preferida e decidiu fazer uma casa para anões, pois o seu maior sonho era um dia conhecer um. Ela ficou alguns dias sem ir à floresta; por isso não sabia se estava algum dentro da casa. Mas no dia em que ela pôde ir à floresta espreitou para dentro da casa e, para seu espanto, viu um anão deitado sobre a cama, a dormir. Ela ficou espantada a olhar para ele. A Isabel não queria acordar o anão, por isso esperou que ele acorda-se. Quando ele acordou, ficou muito assustado com a presença de Isabel, mas depois acalmou.

Entretanto, passou um ano e eles já eram amigos e o anão já tinha confiança suficiente em Isabel para lhe contar a sua história, que era a seguinte: havia chegado ao parque um bando de ladrões que assaltavam pessoas todos os dias.

Havia três frades a viver no parque, numa capela. Um dia, apareceram lá os ladrões e os Frades suplicaram-lhes que não lhes fizessem mal e que não lhes roubassem nada. Os ladrões disseram que não lhes faziam mal e que não levavam nada com a condição de os frades fazerem os remédios se eles ficassem doentes. Os frades aceitaram.

Um dia, os ladrões descobriram que andava um merceeiro por aquelas bandas e decidiram roubá-lo. Mas o merceeiro, que era esperto, também sabia que eles andavam por ali e trouxe alguns homens para combaterem contra os bandidos. O chefe dos ladrões ficou mal, estava quase à beira da morte, e confessou aos frades todos os erros que tinha cometido. Ele disse onde estava o ouro que tinha roubado e pediu aos frades que os dessem a uma pessoa muito boa.

Bem tudo isto se passou há 200 anos e os frades não duraram a vida inteira, não é? Continuando, alguém tinha de ficar a cuidar do tesouro. O anão e os seus irmãos assistiram àquilo tudo e por isso ficaram eles a cuidar do tesouro; mas como não podiam ficar todos por isso fizeram um sorteio para ver quem é que ficava e calhou ao anão amigo da Isabel.

O anão disse que até àquele momento ainda não tinha encontrado a pessoa certa para dar o tesouro. A Isabel pôs-se a pensar em alguém e chegou à conclusão de que o seu professor de música era a pessoa certa. Ele era muito bondoso e assim podia comprar um violino novo. Eles falaram com ele mas ele disse que não precisava mas que tinha um amigo sábio que estava a tentar transformar pedra em ouro.

O sábio tinha pedido ao professor da Isabel que fosse ver como é que estava a correr a experiência, pois o sábio não queria ver porque todas as outras tinham corrido mal. O professor foi ver a experiência mas infelizmente não estava a acontecer nada. Então ele teve uma ideia: eles trocavam as pedras pelo ouro.

Mas havia um problema. As moedas não tinham a mesma forma das pedras. O anão disse que não havia problema, pois ele era muito bom escultor e podia transformar o ouro em forma de pedras. Ele assim o fez e ficaram todos felizes.


Autor: Sophia de Mello Breyner Andersen
Título do livro: A Floresta
Editora: Figueirinhas

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O rapaz de bronze


Era uma vez um jardim onde à noite todas as plantas ganhavam vida. Os gladíolos estavam muito na moda e eram as flores mais colhidas. Certo dia, nasceu um gladíolo que ficou muito contente por saber que ia ser colhido. Mas ele ouviu a dona da casa a dizer ao jardineiro para não colher mais gladíolos porque faziam falta ao jardim.

Então, o gladíolo decidiu fazer uma festa para não ficar tão triste. Ele tinha de pedir autorização ao rapaz de bronze que era o dono do jardim durante a noite. Ele autorizou a festa e o gladíolo convidou todas as flores. Mas um ou dois dias antes da festa eles pensaram que como as pessoas punham flores nas jarras, eles tinham de pôr uma pessoa numa jarra. Então, eles decidiram que seria a Florinda, uma menina de sete anos que era filha do jardineiro.

Na noite da festa, o rapaz de bronze foi ao quarto da Florinda e perguntou-lhe se ela queria ir a uma festa. Ela ficou surpreendida por uma estátua estar a falar com ela, mas aceitou. Quando ela chegou à festa nem queria acreditar no que estava a ver mas o rapaz de bronze disse para ela se sentar na jarra e começou a contar como é que eles ganhavam vida. No dia seguinte, quando a menina foi para a escola, contou às amigas e elas não acreditaram e disseram que ela tinha sonhado. Então ela também começou a pensar que tinha sonhado.

Passaram muitos anos. Quando a Florinda tinha quinze anos, o pai dela pediu-lhe para ir levar ovos a casa da cozinheira. Já era de noite quando ela vinha para casa. O rapaz de bronze veio ter com ela e perguntou-lhe se ela se lembrava dele e se se lembrava da festa. Ela disse que sim, os dois deram as mãos e foram assim a andar pelo jardim.


Autor: Sophia de Mello Breyner Andresen

Título do livro: O rapaz de bronze
Editora: Figueirinhas

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Histórias do bertoldinho



O Bertoldinho era um menino muito traquina que tentava obedecer à mãe mas acabava por fazer só asneiras. É um conto tradicional com aventuras muito engraçadas. Mas neste livro não se conta só a história desse menino. A autora também conta muitas histórias de quando ela era pequena, mais ou menos da idade do Bertoldinho.

Conta a história de quando ia brincar com as irmãs para os bardos de isabelinhas. Um dia chegaram lá dois rapazes, o José e o João, e perguntaram-lhe com qual dos dois se casaria quando fosse grande.

Também conta quando pedia à mãe para lhe contar uma história de quando o tio João era pequenino.

Diz como era quando os tios e primos vinham da Venezuela e do Brasil, e das palavras novas que traziam de lá.

Conta como foi o seu primeiro dia de escola: a professora mandou os alunos fazerem um desenho de uma casa e ela não sabia desenhar, apenas fazer letras e números. Vendo a aflição dela, um miúdo da 4ª classe puxou--lhe o caderno e desenhou-lhe uma casa toda torta para a professora não reparar que tinha sido ele.

Nesse mesmo dia, quando era para ela regressar a casa estava combinado que viria na companhia de outras crianças, porque não sabia o caminho. Mas eles saíram mais cedo e esqueceram-se dela. Com apenas 6 anos, ela teve de voltar para casa sozinha, sem nunca ter feito aquele percurso.

Recorda os ninhos que descobriam na Primavera e a alegria que sentiam quando nasciam os passarinhos e também fala das colecções de folhas que guardavam numa caixa de sapatos, no Outono.

Conta também um episódio engraçado em que uma vizinha se disfarçou de diabo com um xaile preto para meter medo à escritora e às suas irmãs.

Lembra-se de quando a mãe a mandava, a ela e às irmãs, buscar o pão à mercearia. Um dia, elas esquecerem-se do saco para levar o pão. Em vez de pedirem um à dona da mercearia, voltaram a casa, a pé, numa vereda que demorava meia hora a percorrer, para ir buscar o saco.

Também conta uma vez em que o seu avolito a mandou e às irmãs comprarem tabaco para ele, e disse que podiam comprar doces com o dinheiro que sobrasse. Elas esqueceram-se do tabaco e só compraram os doces.

Numa das histórias explica a sua preocupação e das irmãs quando era Natal, porque a casa delas não tinha chaminé. Então ficavam a pensar como é que o menino Jesus lhes ia pôr os presentes no sapatinho.

Em criança, a autora gostava muito do leiteiro que passava pelas casas a distribuir o leite. Um dia ele pediu-lhe que lhe fizesse um bordado, pois já a tinha visto a bordar com a avó, apesar de só ter 5 anos. Ela levou a encomenda a sério e fez o bordado para o leiteiro.

Relembra a tradição de jogar ao balamento e de ir ao Pico das Eiras comer as guloseimas no dia de Páscoa.

Lembra-se quando partiu o biberão da irmã sem querer, e a família sofreu muito porque não tinha dinheiro para comprar outro biberão.

Outra aventura que a autora nunca se esqueceu, foi quando o seu guarda-chuva caiu para trás do armário da escola e ela tinha vergonha de dizer à professora para o tirar de lá, porque era muito tímida. Então, a mãe dela teve de ir à escola buscar o guarda-chuva.

Recorda a romagem da padroeira da paróquia e de como ia vestida de viloa e levava uma boneca com a roupa igual à dela, para ser rifada no bazar.

Conta a história de quando ela pensava que a tia, em vez de dormir, ficava a bordar. Mas era mentira. Ela ficava acordada a bordar depois das sobrinhas irem dormir, e de manhã acordava antes delas.

Também explica como era quando pensavam que o sereno era uma pessoa. Até ao dia em que perceberam que isso não passava de uma fantasia de crianças.


Autor: Lília Mata

Título do livro: Histórias do Bertoldinho
Editora: Câmara Municipal do Funchal


sábado, 17 de novembro de 2007

Um camaleão na gaveta


Era uma vez uma menina chamada Carolina, que queria descobrir pormenores sobre a vida dos dinossauros, e foi perguntar à avó Carlota como é que eles viviam. Fez estas perguntas porque tinha visto covas fundas e largas no caminho de areia e decidiu segui-las. Ao seguir as pegadas, perdeu-se no meio do nada. Entretanto, julgou ver uma enorme cauda cheia de escamas verdes a deslizar por entre uns silvados. Ficou muito assustada e perguntou:
- Quem está ai?
Ouviu uma restolhada como resposta. Começou a correr e ouviu alguém perguntar para onde é que ia a correr tanto.
Ela ficou quase muito admirada, quase muito aflita. Sem mais nem menos apareceu-lhe um raposa à frente. A Carolina disse que queria ir para casa, e perguntou se ia bem por aquele caminho. A raposa disse que achava que sim, e depois convidou a Carolina para entrar na casa dela. A Carolina aceitou, e já dentro da casa da raposa, perguntou:
- Já viste muitos dinossauros por aqui?
- Sim! Muitíssimos! Ainda hoje passou por aqui, e hoje tinha as escamas verdes.
Carolina, sem querer saber de mais nada, foi logo embora.
Uns dias mais tarde queria tirar umas meias da gaveta e quando a abriu, sentiu uma coisa mole e muito áspera. Era um camaleão, mas a Carolina tinha pensado que era um pequeno dinossauro.
Percorreu toda a aldeia com o camaleão às costas. De repente, ela reparou que o camaleão já não estava nas suas costas.
Ouviu ao longe uma cantoria, que era a cantoria que o camaleão tinha cantado quando conheceu a Carolina. A Carolina não voltou a encontrar o camaleão e em breve teria de abandonar a aldeia, e voltar para a cidade, onde estudava, e os colegas diziam que se parecia com um dinossauro. A pensar nisso, a Carolina adormeceu, aninhada na cama, tal como o amigo camaleão que encontrara na gaveta.

Autor: Maria Alberta Menéres
Título do livro: Um camaleão na gaveta
Editora: Edições ASA




sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Os seis companheiros invencíveis


Era uma vez um homem que era bom a fazer tudo. Tinha sentado praça e servido o rei. Mas quando a guerra acabou, o rei mandou-o embora, dando-lhe apenas dois vinténs para a viagem. O homem ficou chateado e foi procurar ajuda para se vingar do rei.
Quando ia a caminho, encontrou cinco homens e todos aceitaram ir com ele. Primeiro, encontrou um homem tão forte, tão forte que conseguía pegar em cinco árvores de uma só vez. Depois encontraram um caçador com tanta pontaria que queria acertar com um grão de chumbo no olho de um mosquito a duas léguas dali. Um dos homens que encontraram conseguía pôr sete moinhos a andar só com a venta esquerda. Outro tinha desatarraxado uma perna para não correr tanto, pois ele corria muito. Finalmente encontraram um homem com o chapéu inclinado sobre uma orelha. Se ele pusesse o chapéu direito fazia tanto frio que os pássaros até caíam mortos no chão.
Então, chegaram a uma cidade onde o rei dava como prémio a mão da filha a quem a conseguisse vencer numa corrida. O homem que queria vingar-se do rei desafiou-a mas não foi ele quem correu, foi o andarilho.
Na corrida, os dois tinham uma bilha e tinham de correr uma légua para chegar a uma fonte para encher a bilha. O andarilho ia muito mais adiantado e encheu a bilha primeiro. Mas ficou com sono e decidiu deitar-se um pouco a descansar. Deitou a cabeça em cima de um crânio de cavalo para não ser tão confortável. A princesa viu que ele estava a dormir e despejou a bilha dele. Mas o caçador estava a ver tudo e disparou contra o crânio para o andarilho acordar. Então ele voltou a trás, encheu a bilha e ainda conseguiu vencer a princesa.
A princesa e o rei ficaram furiosos e queriam livrar-se dos seis homens.Então o rei convidou-os para um banquete num quarto de ferro para depois o cozinheiro acender o fogão que ficava por baixo desse quarto. O plano era cozer os seis companheiros mas não resultou porque o homem do chapéu o pôs direito e os pratos até gelaram.
Quando o rei veio ver ficou furioso e disse que se o soldado desistisse da mão da princesa, lhe daria todo no ouro que ele quisesse . Ele aceitou e mandou fazer um saco enorme para levar muito ouro. Então o rei meteu todo o seu ouro no saco que ficou muito pesado. Por isso teve que ser aquele homem muito forte a leva-lo.
Logo que ele virou as costas o rei mandou as tropas atrás deles. Os soldados do rei ameaçaram esquartejá-los mas o homem que soprava pela venta soprou e mandou-os todos pelos ares. Então o rei desistiu e os seis companheiros dividiram as riquezas e viveram felizes até morrerem.

Autora: Maria Amélia Vaz de Carvalho e Gonçalves Crespo
Título do Livro: Contos de Sempre
Editora: Porto Editora