domingo, 23 de novembro de 2008

O meu pé de laranja lima

O Zezé era um menino de 5 anos. Ele aprendeu a ler sozinho e por isso foi cedo para a escola.

No Natal, o Zezé tinha sempre esperança de receber alguma coisa, mas como a família era muito pobre, não podiam dar nada a ele nem aos irmãos.

Um dia Zezé e a família tiveram de mudar de casa. Nessa casa haviam várias árvores e o Zezé ficou muito amigo de um pé de laranja lima chamado Minguinho.

O Zezé adorava agarrar-se à parte de trás e sentir a estrada. Havia um homem que era português, tinha muito dinheiro e um carro que todos invejavam. Então o Zezé apostou com o Minguinho que conseguia agarrar-se ao carro do português sem ele dar por nada. Só que o Sr. Valdares (que era o português) viu e humilhou Zezé. Todos riam com maldade, e durante as semanas seguintes o Zezé saia de casa mais cedo para ir para a escola por outro caminho, para que ninguém se risse dele. Mas com o tempo as pessoas esqueceram-se e ele já podia ir pelo caminho que ia normalmente.

Quando o português passava pelo Zezé de carro dava um ou dois apitos e Zezé odiava porque pensava que o Sr. Valdares estava a gozar com ele.

Um dia o Zezé estava descalço e enfiou um caco de vidro no pé. Quando chegou a casa a Godóia tirou-lhe o caco do pé e não parava de sangrar. O Zezé pediu a Godóia para não contar nada a ninguém porque se o pai soubesse ia bater-lhe. No dia seguinte ele pensava que conseguia ir às aulas mas começou a ter dores. O português estava a passar de carro e viu que Zezé estava com dores e ofereceu-se para leva-lo à farmácia.

A partir desse dia tornaram-se amigos inseparáveis. Mas a amizade que eles tinham era uma amizade secreta.

Um dia Zezé estava a fazer um balão de papel e a sua irmã Glória chamou-o para ir jantar e ele estava quase a acabar o balão. Ele chateou-se e começou a chamar-lhe “nomes”. Quando o pai chegou deu-lhe uma tareia tão grande que ele ficou vários dias de cama e não pôde ir ter com o portuga (era assim que ele tratava o português).

Quando o Zezé ficou melhor foi ter com o portuga e disse que ninguém gostava dele e que se queria matar. Mas o portuga convenceu-o a não fazer aquele disparate.

Um dia Totoca (o irmão mais velho do Zezé) disse-lhe que a câmara ia construir uma estrada que passava exactamente no sítio onde estava o Minguinho e que ele ia ter de ser cortado e também lhe contou que o pai tinha arranjado emprego e que por isso dali a alguns meses iam ter de mudar de casa. Mas o Zezé ficou muito triste por saber que o Minguinho ia ser cortado.

Certo dia, quando ele estava na escola, um colega disse que o Mangaratiba (um comboio muito rápido) tinha passado por cima do carro do portuga e que ele estava lá dentro.

O Zezé saiu da sala de aula a correr e foi para o sítio onde tinha acontecido o acidente. O portuga tinha morrido. O Zezé ficou muito doente por ter perdido o seu grande amigo. Não falava, não comia, e vomitava muito. A família pensava que era por terem de cortar o Minguinho, porque eles não sabiam da amizade entre o portuga e o Zezé. Passadas várias semanas ele ficou melhor. Depois o pai disse que ainda faltava muito tempo para cortarem o Minguinho, e que nessa altura já teriam mudado de casa.

Mas o Zezé disse que o Minguinho já não era o mesmo. Era como se já tivesse morrido.



Titulo da obra: "O meu pé de laranja lima"
Autor: José Mauro de Vasconcelos
Editora: Livros Dinapress